segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Rugas e verrugas

Círculo mágico - John William Waterhouse (1886)


Hoje é dia 31 de outubro, dia em que o inverno chega (para o norte), e os mortos são festejados. Hoje é aniversário de Vermeer, mas eu comemorei ontem, devido que hoje é o dia das bruxas (Halloween), e como tal, farei um especial para esse dia que não é muito popular no Brasil, mas ainda sim é muito famoso e apreciado em muitos lugares.






El aquelarre - Goya (1798)


A bruxaria surgiu na antiguidade entre os povos celtas e outros povos pagãos, que tinham como religião o druidismo, contudo não possuiam uma tradição escrita, tudo era passado de geração para geração de forma oral, e isso foi a grande chave para a igreja destruir essa cultura. A falta de conhecimento por parte da população européia foi habilmente manipulada pela igreja, que, por ter conhecimento disso, decidiu denegrir a imagem dos druidas, tranformando-os em adoradores do demônio (personagem da mitologia cristã, representado como aquele que controla os males do mundo) através de um dos deuses mais importantes do druidismo, o deus Cernunnos (figura à esquerda). A partir de então, a imagem das bruxas foi sendo cada vez mais denegrida, ao ponto de começarem a serem odiadas e temidas pelas pessoas.

Deus Cernunnos

A representação de imagens, na época medieval era o melhor meio de transmitir a sociedade o que se desejava ser compreendido por ela, e isso perpassou por diversos séculos e movimentos artísticos, até hoje, com representações de mulheres, velhas, feias e com aspecto monstruoso e macabro, que faz feitiços utilizando coisas repugnantes, biológicas e até antrópicas.
Macbeth segui por Banco encontra três bruxas - Théodore Chassériau (1885)

Mas agora vamos as representações, um dos primeiros pintores que irei falar foi Francisco Goya (1746-1828), nasceu em Fuendetodos, na Espanha, onde a prensença do catolicismo era intensa, e a inquisição possuia um poder enorme, unindo isso ao estilo da época, o barroco, Goya desenvolveu obras de espetacular beleza e expressividade, a pesença de um contraste forte entre a sombra e a luz, os movimentos corporais e a pincelada davam um efeito ainda maior a suas obras.










esq - Bruxas no ar (1797) /dir - Sabá das bruxas (1798)



Goya era conhecido por fazer monstros, bruxas e criaturas noturnas, em ambientes tristes, sombrios e místicos, nos transportando para um pesadelo, sendo esta sua intenção, ele gostava de representar pesadelos e imagens fantásticas, porém macabras. Além disso, sua preferência por personagens mitológicos tanto greco-romanos quanto celtas era muito frequênte. Mas não só de pinturas Goya se utilizava para representar seus pesadelos, ele possuiam um alto nivel na produção de gravuras, onde representava tão bem quanto suas pinturas a expressividade do medo que era presente em suas obras. Vale lembrar que nem sempre ele utilizava de temas mitológicos, outras vezes ele fazia críticas fortes a sociedade da época, inclusive a inquisição e seus métodos.

Conjuro (1794)



Outro pintor que apreciava representar bruxas, era o também espanhol Luis Ricardo Falero (1851-1896), nasceu em Toledo, mas morou em Paris e morreu em Londres, ele possuia uma profunda admiração pela astronomia e por temas fantásticos, lenvando-o a produzir obras nesse âmbito, ele também adorava colocar em suas imagens ao menos um nu. Diferente de Goya, Falero fazia imagens muito mais limpas e claras, porém ainda sim não deixando de lado os temas noturnos, porém não existe a presença de uma escuridão tão profunda com alguns pontos iluminados. Suas obras, mesmo mais claras, ainda sim causam em quem as observa uma sensação ainda sim fantástica e mística, porém mais alegre e agitada, suas pinceladas são impressionantes e os tons foram muito bem escolhidos.



Sua criatividade é impresionante, não só pelos temas, mas também pela ousadia modo como os personagens gesticulam e a harmonia como são colocados, diferente de muitos outros artistas ele preferia fazer bruxas com uma beleza impressionante e em pleno vigor físico, e muito atrativa sexualmente.

esq - O sábado das bruxas



Visão de Fausto


Outro artista que soube representar de forma magnífica as bruxas foi John William Waterhouse, nasceu no Reino-Unido, e sempre demostrou grande apreciação por temas mítocos clássicos, depois se ligando também a temas literários, se envolveu muito com o movimento neo-clássico, pré-rafaelita e impressionista, o que levou a suas obras assumirem um traço único e maravilhoso, suas obras tem uma expressividade própria onde demonstram estar pacíficas e pensativas a princípio, porém ainda sim mostram a presença de paixão e dor, o que o torna um artista impressionante. Além disso os tons frios, até mesmo em cores quentes nos dão uma sensação impressionate, influência do território onde moro, cujo ambiente é mais frio.



A dama de Shallot (1888)

A representação das bruxas não se restringiu as artes plásticas mas também ao teatro e ao cinema, a literatura e a dança. Como no caso da bruxa da Branca de Neve, feito pela Disney em 1937, sendo o primeiro longa em desenho, mostra uma bruxa cruel e impiedosa, que possui duas imagens, uma de uma mulher bonita, porém má, e outra uma idosa, com aspectos grotescos e malignos, mas entre outras histórias de contos de fadas estão cheias de bruxas feias e mal cuidadas. As obras de Shakespeare são repletas bruxas que participam direta ou indiretamente dos acontecimentos, como as três bruxas no início de Macbeth, onde ele é surpreendido por elas e estas dizem a ele seu destino, outra história muito conhecida é a de Rei Arthur, do qual a presença de bruxos é pesada, como sua irmã Morgana, seu mestre Merlin, e entre outros, também podendo ser melhor visto na série de livros, que deu origem ao filme, As Brumas de Avalon, escrito por Marion Zimmer Bradley. Outras representações mais atuais vem quebrando os esteriótipos malignos das bruxas, como na série Sabrina, a aprendiz de feiticeira (1996-2003), A feiticeira (1964-1972), e relativo a monstros, ainda temos A família addams (1964-1966).


Bruxa da branca de neve (versão da Disney)

Para concluir esse post que é enorme, eu admito, gostaria de lembrar que antes de julgar a bruxaria deve-se conhecê-la e entendê-la, pois diferente do que lhes foi dito, não é assim, e lembrem-se que o mal existe em todo lugar. E por mais errôneas que sejam as imagens que as representam, foram muitas vezes bem produzidas e merecem serem apreciadas.

Capa do livro "As brumas de Avalon"

Nenhum comentário:

Postar um comentário